domingo, 26 de fevereiro de 2012

Regulamentação do Roubo



Regulamentação do Roubo
Rodrigo Moreira Campos (Led) - 07/01/2005

Aquela cidade era comum, como qualquer cidade de médio porte. Pais de família no escritório, mães donas de casa, missa aos domingos, encontros na praça. Dias calmos e uma qualidade de vida modelo, de dar inveja às cidades vizinhas. Tudo porque ali os governantes se preocupam com o povo.
O penúltimo prefeito, por exemplo, resolveu acabar com o constrangimento dos moradores de viverem n'uma cidade devedora. Para por fim ao tão indesejável déficit público, cortou alguns gastos em educação, saúde e infra-estrutura e assim conseguiu equilibrar o orçamento.

Mas, não se sabe por qual motivo, há mais ou menos cinco anos surgiram os primeiros desempregados na cidade. Os jovens se rebelaram de repente não gostavam mais da escola. Os médicos, esses que foram o orgulho da cidade durante tanto tempo, agora estavam de mau-humor e não atendiam bem seus pacientes, o hospital não funcionava mais.

Mas o problema que mais indignou os moradores foi o roubo. De todo tipo. Assalto a mão armada, gangues de rua, roubo de galinha no quintal e roupas no varal. Não se podia bobear, que pronto, sumiu uma carteira, ou um relógio, ou um celular.

O povo pedia solução. A prefeitura agia. Para aumentar o número de soldados, reduziu o salário dos policiais. Outro presídio foi construído. Nada adiantava, e outro dia até o delegado foi roubado.

Mas um dia, ao acordar, a cidade se surpreendeu. As reações eram diversas, e se dividiam em aprovação e rejeição.

Alguns diziam:
_ Coitados, não têm décimo terceiro, seguro desemprego, férias, aposentadoria e ainda vão ter que pagar impostos.

Outros, incisivos:
_Negócio é negócio, tem que ajudar a cidade a crescer.

Mas os ladrões, estes sim se revoltaram. Protestaram, gritaram.
_Isto é um roubo!!!

Liam uma, duas, três, várias vezes a noticia no jornal.
"Prefeito Regulamenta o Roubo"

Era isso mesmo. Registro de ladrão, taxa máxima de assalto e, vocês não vão acreditar, 30% de imposto sobre o valor do furto. Era um absurdo.
Os ladrões se organizaram, formaram um grande sindicato. Em sua primeira greve abaixaram o imposto para 20%.

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